quinta-feira, 21 de maio de 2015

PENÍNSULA ITAPAGIPANA

Fonte: http://ufbapeninsulaitapagipana.blogspot.com.br/ 

A península – que, no passado, serviu-se à defesa militar da cidade – também se divide entre “ricos” e pobres: o lado norte, mais empobrecido, abrange bairros populares e populosos como Roma, Uruguai, bairro Machado, parte da Ribeira, Massaranduba, Jardim Cruzeiro e Vila Rui Barbosa, além de ser uma das portas de entrada das quase extintas palafitas dos Alagados (que, de tão famosas, viraram mote de hit dos Paralamas do Sucesso), enquanto a “zona sul”, mais valorizada, engloba Boa Viagem, Monte Serrat, Bonfim e parte da Ribeira. É ao sul, aliás, que estão instalados equipamentos turísticos importantes e bastante visitados, como as igrejas do Bonfim – um dos mais emblemáticos cartões-postais de Salvador – e da Boa Viagem, a igreja e o forte de Monte Serrat, a Ponta de Humaitá (palco de um exuberante pôr-do-sol sobre o mar), a praia da Boa Viagem e a Avenida Beira-Mar (atualmente em estado de total abandono).

Escolas – como o estadual Colégio da Polícia Militar e o privado São José, dois dos melhores e mais tradicionais da capital baiana –, hospitais (a exemplo do Couto Maia, São Jorge, Santo Antônio, Agenor Paiva, da Polícia Militar e Sagrada Família), o Asilo Dom Pedro II, a Vila Militar, a tradicional Sorveteria da Ribeira e os restaurantes rústicos (destacando-se os da Pedra Furada, na Boa Viagem, do estaleiro do Bonfim e da Avenida Beira-Mar, na Ribeira) são apenas alguns dos equipamentos que notabilizam a área como uma das mais importantes na vida urbana de Salvador.

Do alto alto da Colina Sagrada, nos arredores da Igreja do Bonfim, dá pra se ter uma noção do enorme fosso social que separa os soteropolitanos ricos dos pobres: na linha do horizonte e a mais de 8 quilômetros de distância, uma pequena extensão composta por imponentes edifícios do Corredor da Vitória (cujo metro quadrado não fica por menos de 7 mil reais) logo é suplantada por uma monótona e extensa paisagem favelizada, ambas intercaladas por um pedaço do Centro Histórico de Salvador.

E foi justamente na península de Itapagipe, o adro sagrado da capital baiana, que se instalou um dos ícones da religiosidade e assistencialismo brasileiros: a freira Irmã Dulce, atualmente em vias da beatificação. Foi ali, no Largo de Roma, aos pés da Colina Sagrada, que a religiosa soergueu o Hospital Santo Antônio, tradicionalmente voltado ao atendimento da população mais carente.

A velha Península Itapagipana é dotada de uma infra-estrutura contraditória: praças amplas (a exemplo dos Largos do Papagaio e da Madragoa, na Ribeira) e largas avenidas não impedem a carência de espaços de lazer e entretenimento na maior parte da região. O antigo Cine Roma, palco da cena do rock baiano e epicentro das apresentações de Raul Seixas e Jerry Adriani, já não funciona mais numa área que carece de espaços fechados para espetáculos.

A partir do tradicional Largo de Roma (onde estão situados os hospitais Santo Antônio e São Jorge) nascem as três artérias principais, que são capilarizadas por inúmeras ruas, vielas e becos: as Avenidas Caminho de Areia ou Tiradentes (que vai até a Ribeira), Dendezeiros (que segue até o Bonfim) e Luiz Tarquínio (que ruma em direção à Boa Viagem) são de fundamental importância ao trânsito local. Ao longo da Avenida Caminho de Areia – a principal artéria comercial e de serviços –, restaurantes, farmácias e postos de gasolina dividem espaço com uma gama de estabelecimentos comerciais e muitas (mas muitas mesmo) sinaleiras que tentam organizar cruzamentos extremamente perigosos. O trânsito, quase sempre caótico, é apimentado pela imprudência de transeuntes e buracos na pista.

Os bairros da Ribeira, Calçada (mais especificamente, a praia do Cantagalo) e Boa Viagem são osplaygrounds da Cidade Baixa nos finais de semana. Clubes popularescos, como o Itapagipe e o Bogary, agregam-se a atrativos como praias - quase todas poluídas -, farofas com frango assado, sol escaldante e preços relativamente acessíveis (em comparação à orla atlântica da capital). Some-se tudo isso e o resultado será inevitável: praias, botecos e restaurantes lotados, muita sujeira pós-farra e insatisfação dos moradores.

A praia da Ribeira, em praticamente toda a extensão da Avenida Beira-Mar, transforma-se em palco de grandes sensações nos finais de semana e feriados: o Subúrbio Ferroviário e bairros circunvizinhos (como Liberdade, São Caetano, Fazenda Grande e Largo do Tanque) “descem em peso” em busca de lazer, num verdadeiro movimento migratório. É só andar um pouco pela localidade para se perceber o inchaço sazonal, que é complementado até por moradores de bairros distantes.

Desde o final da Avenida Porto dos Mastros até as imediações do terminal de ônibus da Ribeira, a poluída enseada dos Tainheiros abre visão à paisagem do outro lado terrestre, que contrasta as habitações irregulares do bairro do Lobato com fragmentos de um formoso visual do bairro de Plataforma (ambos no subúrbio ferroviário). Ribeira e Plataforma, inclusive, são interligados por um sistema municipal de embarcações que faz, em 5 minutos, uma travessia que, de carro, dura mais de 20.

Mas a Ribeira é muito mais do que praia e gastronomia. É também história e música. A musicalidade, traço marcante da Bahia, encontra por ali um fértil terreno, seja através das festas de “partido alto”, seja nos ensaios e shows de pagode baiano. Locais como a marina da Penha, fim de linha e Avenida Beira-Mar transformam-se no palco da “quebrança”.

REFERÊNCIA:

http://deniseqf.blogspot.com.br/2013/07/itapagipe-peninsula-da-peninsula.html

Um comentário:

  1. Esse relato mostra que a Península Itapagipana, desde o seu povoamento, nunca deixou de respirar vida. Muito embora, tenha demonstrado, ao longo do tempo, uma existência crescente e desordenada, a Península de Itapagipe tornou-se um local acolhedor e atrativo para boa parte da população soteropolitana pobre, denotando a importância social e comercial de sua singular característica cosmopolita.

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